quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O encontro


O homem ria mas seus olhos eram frios, não espelhavam a ternura comum aos sorrisos. A menina não o olhava, desviava o olhar para as outras mesas do restaurante. A mulher, mãe da menina, embora tímida, mostrava-se encantada com o que o homem lhe dizia. Parecia uma cena familiar num almoço de domingo. Mas havia entre eles um tipo de ansiedade que não é comum nos almoços de domingo.

Ele falava muito alto comparado com o tom de voz das outras pessoas naquele salão. Aos poucos, pelo que diziam, compreendi que haviam se conhecido pela internet. Parecia ser o primeiro encontro pessoal entre eles. A mulher levara a filha talvez porque não tivesse com quem a deixar. O homem ignorava a menina e fazia perguntas à mulher sobre a sua vida e o seu passado.

A mulher não tinha beleza, apesar da maquiagem em seu rosto triste. Percebia-se que maquiar-se não fazia parte dos seus hábitos de todo dia. O homem vestira-se com apuro e vaidade. Penteara com cuidado os cabelos negros e compridos e fazia perguntas enquanto sorria o seu sorriso estranho. Na rua, uma chuva fina molhava as calçadas de pedras portuguesas. O grasnar de uma gaivota lembrou a presença do grande rio que passava ali perto e desfilava suas águas tranquilas numa corrente infinita.



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