sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Esperança


A esperança é um fruto
que apodrece em nossas mãos.
Longe da boca e da fome,
tão distante da contemplação
como o horizonte de sombras.

É como se fosse a flor
sugada por abelhas e formigas
e lagartas enroladas
no caule de sua planta,
na folhagem devastada.

Jamais cercou nossas vidas
nem a nossa caminhada,
apenas suas pegadas
foram vistas e anotadas
em um canto da memória.

Não nasceu, foi construída
por almas desamparadas
precisando acreditar.
Existiu como um sonho
prestes ao acordar.

Plantou suas raízes
no peito dos escravizados,
na garganta dos prisioneiros,
nos olhos dos exilados,
como uma erva daninha.

Iludiu-nos. Prometeu
realizar quimeras,
devolver coisas perdidas.
Falou estranha palavra,
bela e emudecida.

Interrompeu o choro
e o lamento das velhas
e nos fez acreditar no tempo
e em manhãs
que haviam de chegar.


Confuso sentimento, este
que vai parindo fantasias,
revolvendo o silêncio
e que é menos que promessa
e mais que esquecimento.

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