terça-feira, 11 de junho de 2013

Constança


Ela se divertia me dando sustos. Escondia-se atrás dos móveis, esperava-me entrar e fingia um ataque. Era bem-humorada, irrequieta, curiosa. E de extraordinária beleza. Conseguia pegar um passarinho em pleno voo, investigava a casa inteira e dava conta de qualquer coisa que estivesse fora do lugar.

Quando caiu do oitavo andar, passou dois dias desaparecida até ser encontrada numa área escondida do prédio. Estava ferida, uma perna fraturada mas viva e assustada. Sofreu uma cirurgia, foi-lhe implantada uma prótese de metal e passou a mancar. Mas continuou ativa, rápida, e não perdeu o bom-humor.


Depois ela adoeceu. Os rins deixaram de funcionar, talvez uma sequela da queda. Ficou vários dias internada, sem melhoras. Quando fui visitá-la, estava com o pelo duro, eriçado, porque já não conseguia limpar-se. Os olhos estavam fechados. Ao reconhecer minha voz, conseguiu levantar-se, emitiu um miado fraco e triste e depois tornou a deitar-se. Naquela mesma noite foi sacrificada.

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