domingo, 16 de maio de 2010
No Araguaia
Conhecí aquele inglês alí na divisa de Mato Grosso, Tocantins e Goiás, trabalhando como gerente de uma pousada flutuante no Rio Araguaia. Costumavamos nos hospedar neste botel, de onde saíamos para pescar em canoas com motores de popa, num horário que ia das quatro às dez da manhã, quando o sol se tornava insuportavelmente quente. Taylor, que se dizia de uma pequena cidade perto de Manchester, era nosso anfitrião e guia pelos pesqueiros do Araguaia.
Era ele quem nos despertava, às 3 e meia da madrugada, de modo a que pudessemos estar em plena atividade por volta das quatro. Nada comia pela manhã, tomava apenas um copo de água e, a partir das oito, abria a primeira lata de cerveja e continuava a beber durante todo o restante do dia. Aquele copo que ele dizia ser de água, descobri mais tarde, na realidade era uma farta dose de gin. Nunca o vi embriagado, embora tropeçasse nas palavras, por conta da sua dificuldade com o português.
Da mesma maneira como apareceu nas margens do rio em busca de trabalho, também desapareceu. Quando chegamos no meio do ano, depois das grandes águas, o novo gerente do botel disse que Taylor certo dia pediu as contas, tomou uma última dose de gin, pegou carona num batelão de transporte de gado e sumiu para sempre.
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Um comentário:
Parece um personageem do Somerset Maughan. Um daqueles ingleses ingleses de passado nebuloso desgarrado nos trópicos.
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