
Conheci gente que resolveu se matar bebendo. Uma forma de suicídio sem dor e talvez com algum prazer, apesar da destruição do fígado. Eram pessoas ternas, sentimentais, risonhas e de humor ligeiramente cáustico que não conseguia esconder o desencanto. Marcelinho Cachaça, Murilo, Gelon, Doka, Abílio, todos eles mergulharam sem desespero na escuridão, de onde jamais sairam.
A lembrança deles me vem por causa do homem gordo que bebia cerveja no botequim da Rua Inhangá. Chegava por volta das sete horas da manhã, quando o bar abria as portas, sentava-se e lá ficava grande parte do dia. Olhava os passantes com ar de ironia, os que iam à praia, os corredores, os atletas do calçadão de Copacabana.
Às vezes ele acompanhava o copo de cerveja de um cálice de bebida branca. Cachaça, vodka, um destilado qualquer para aumentar o teor da cerveja.
Há dias que não o vejo.