quinta-feira, 20 de abril de 2017

Mudanças



A viagem de 11 horas atravessando o Atlântico a deixou inquieta, de mau humor, no desespero da prisão de uma caixa sem conforto. Miou seu protesto durante todo o voo até a chegada num aeroporto movimentado, ameaçador. Submeteu-se com paciência ao exame minucioso das autoridades e aguardou curiosa a apresentação dos certificados que atestavam a sua saúde. Para quem havia saído do clima do Rio em pleno calor de janeiro, não pareceu estranhar o frio intenso da cidade desconhecida.

Ocupou a nova casa, bem menor que a anterior, e percorreu cada canto enquanto a pequena cadela, silenciosa durante toda a viagem, a acompanhava com os olhos. Nos poucos dias de sol das primeiras semanas, procurava os raios filtrados pelas nuvens para fugir do frio do Norte de Portugal. Em breve, ambas sentiram-se à vontade, adaptadas a um país diferente.

Acostumou-se ao canto dos novos pássaros e às árvores que não eram mais as palmeiras que lhe fizeram companhia desde quando era um filhote ingênuo. Tornou-se amiga de uma oliveira plantada no pequeno jardim e passou a perseguir os insetos estranhos que habitam a nova paisagem. Ainda não lhe foi possível caçar uma das gaivotas do Rio Douro mas também não desistiu. Algum dia vai conseguir, pois a vida é assim - desafiante, trazendo consigo a permanente surpresa das emoções até então desconhecidas e que lhe dão significado e sentido.


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