quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O amor que não ousa dizer seu nome


As duas meninas estavam uma de frente para a outra, no vagão lotado do metrô. Elas se olhavam com a intensidade de amantes surpreendidas pelo desejo, quando o mundo em volta desaparece e só passa a existir a vontade dos corpos, a desesperada vontade dos corpos de se abraçar e de se unir. Elas balbuciavam sussurros da boca para o ouvido uma da outra, no meio da multidão apertada dentro daquele vagão, às cinco em ponto da tarde.

Os sussurros eram acompanhados de sorrisos leves e de olhares fixos um no outro, dava quase para se ouvir a respiração ofegante de uma e de outra, alguma coisa intangível quase que as sufocava dentro do vagão apertado e de repente elas aproximaram as bocas abertas e as juntaram coladas num beijo profundo.

Poucos passageiros viram, nenhum deles disse nada, alguns olharam com atenção. Elas saltaram quase abraçadas na Estação Botafogo, eu me lembrei de “O poço da solidão”, de Radclyffe Hall, a história de Stephen, de nome Mary Olivia Gertrude, e do seu desengano diante do preconceito na Inglaterra de 1928. Oscar Wilde, falando sobre o livro, resumiu assim: "As circunstâncias são as marcas de chicote que a vida deixa em cada um de nós. Alguns as recebem com as alvas costas inteiramente nuas..."

Um comentário:

Divino Leitão disse...

Ola meu amigo, que prazer imenso de receber o link para seu blog e começar logo por um texto tão interessante sobre um fato que é do cotidiano urbano, mas só acontece aos olhos prevenidos e só tem valor se narrado com a necessária veia poética de quem sabe observar além do que os olhos veem.

Parabéns, já estou acompanhando seu blog, quando puder visite o meu.