sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Coisas íntimas
Na mesa da esquerda dois homens conversam, quase bêbados. Um deles faz confidências ao outro. Não é muito comum homens confessando coisas íntimas, a não ser quando bêbados. As mulheres, ao contrário, expõem mais facilmente os seus sentimentos.
O homem gordo dizia ao outro que nunca se sentiu à vontade no casamento, parecia que ela, a mulher, alimentava enquanto ficaram juntos um certo sentimento de hostilidade que os afastou. Ele diz que segurou enquanto pôde até o dia em que arrumou algumas roupas numa mala velha e saiu de casa. A antiga hostilidade transformou-se em ódio.
Ele continuou a falar, o outro escutava com interesse. Acrescentou que já se sentia cansado de se defender perante juizes e delegados de acusações por conta de agressões que nunca praticou, de pensões de alimentos que não devia e de intrigas espalhadas no trabalho e entre seus amigos. Ficaram muito tempo conversando. Procurei desviar minha atenção, pois comecei a me sentir violando o sofrimento de um homem quase bêbado, num botequim de Copacabana.
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