Espelho
Uma aurora incendiada assemelha-se
à sangrenta chaga do crepúsculo
como se fora a noite no lugar do dia.
As passadas na rua são ritmos antigos
em um som cantado pelos ventos.
Os sonhos nadam numa argila escura,
espécie de lama a se espraiar nas plantas
e estas são apenas troncos ressequidos.
A fumaça exala brumas, a paisagem
desvenda seu rosto esmaecido.
A maré avança sobre os ritos, um altar
feito de galhos queima e o sacrifício
é vão como a rotina dos que morrem
agonizando às primeiras horas da manhã.
Os presságios espalham seu perfume.
Nem cânticos ou lamentos nem o pranto
consolarão a noite e seus tormentos.
A escuridão perpassa seus gemidos,
os animais escondem-se nas sombras
e os homens em pressentimentos.
Uma noite esmagada pelos sonhos.
Os vultos se perdem pelos labirintos,
são apenas reflexos dos espelhos.
O olhar tenta enxergar o horizonte
e desvendar o segredo desse instante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário