quinta-feira, 14 de março de 2019

Aniversário



A criança vive na memória do velho, o menino calado de olhos grandes, curioso, surpreso com as descobertas do mundo. As lembranças não desaparecem, misturam-se umas às outras e despertam leves sentimentos de nostalgia e também de arrependimento e culpa por gestos e palavras que se revelaram inúteis. A vida se mostra com a intensidade que pulsa até mesmo nos males que o tempo acumula e as dores sopram de algum lugar de dentro da alma.

A infância teima em lutar contra as sombras que invadem o sono, apascenta as vigílias e recita os versos mudos que jamais serão escritos. Fazem parte da poesia que nunca encontrará sua forma mas estará presente como se forçasse a ressureição de sentimentos mortos.

Pois para isto fomos feitos. Viver as voltas da vida, habitar a fonte dos conflitos que nos acompanharão até esgotar-se a derradeira brisa. Penso na inutilidade de todas as coisas e nas feridas que nunca cicatrizaram. Há chuva, um tímido sol, nuvens sombrias e certa beleza no despertar da primavera fria.

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