A criança vive na memória do velho, o
menino calado de olhos grandes, curioso, surpreso com as descobertas do mundo.
As lembranças não desaparecem, misturam-se umas às outras e despertam leves sentimentos
de nostalgia e também de arrependimento e culpa por gestos e palavras que se
revelaram inúteis. A vida se mostra com a intensidade que pulsa até mesmo nos
males que o tempo acumula e as dores sopram de algum lugar de dentro da alma.
A infância teima em lutar contra as sombras
que invadem o sono, apascenta as vigílias e recita os versos mudos que jamais
serão escritos. Fazem parte da poesia que nunca encontrará sua forma mas estará
presente como se forçasse a ressureição de sentimentos mortos.
Pois para isto fomos feitos. Viver as voltas
da vida, habitar a fonte dos conflitos que nos acompanharão até esgotar-se a derradeira
brisa. Penso na inutilidade de todas as coisas e nas feridas que nunca
cicatrizaram. Há chuva, um tímido sol, nuvens sombrias e certa beleza no despertar
da primavera fria.
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