quinta-feira, 8 de março de 2018

A tarde (II)


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A tarde matizada de chuva, envolvida pelo vento frio, compõe uma paisagem debruçada sobre o rio, bela e sóbria, enquanto assiste a chegada da noite. O velho contempla a rua enquanto caminha pela calçada estreita em direção ao parque onde os faisões ensaiam seus curtos voos. Olha, lembra dos invernos não tão frios de antigamente. Mas sente-se melhor, aqui, sentindo o vento quase gelado a lhe bater no rosto.

A madrugada de silêncio e insônia trouxera lembranças confusas que não sabia dizer se eram mesmo de vigília ou sonho. Todas as noites silenciosas e insones trazem consigo memórias ruins, fracassos vividos, pensa o velho, pois a vida jamais é construída sobre vitórias, a perda e a dor vão construindo o arcabouço da vida.

Há uma presença de cinza não só nas ruas, mas também nas nuvens e na própria chuva que gaivotas atravessam, ouve-se o grasnar como um grito misturado ao som da rolagem dos automóveis. Um cenário perfeito para a tristeza, pensa o velho, que no entanto não se sente triste. E entra no bar que fica bem na esquina da rua, antes do jardim onde despontam as primeiras flores da primavera.



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