Numa manhã de frio de um
inverno distante, olhou o mar, sentiu na boca o gosto do vento carregado de sal
e imaginou paisagens de coxias que não terminavam. Prolongavam-se até os
confins do horizonte, como se vê no fundo de algumas pinturas de artistas florentinos
do Renascimento. Pequenos morros arredondados, um após o outro, cobertos por
uma relva verde, meio descolorida.
Na divagação do
pensamento, era assim que via um mundo onde a quietude acenava para os que
viviam à sombra da fumaça dos escapamentos. Ou para os prisioneiros
imobilizados entre paredes de cimento nos lugares onde o sol era incapaz de
iluminar mas existiam sombras sem explicação. Nem som, nem música ou zumbido
dos insetos vespertinos perturbavam o silêncio absoluto.
Nuvens de chumbo
cruzavam lentamente o céu em que o azul esquecido confundia os olhares fixos
dos condenados. Nada existiria sem cansaço. Sequer o sopro de alguma memória
esquecida no tempo ilimitado dos delírios. Apenas o silêncio, o vento de sal,
as paisagens que não significavam nada, as ondulações de lembranças sem
sentido.
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