sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Terrível



Fisicamente forte, de corpo moldado por halteres e exercícios de força, amava inspirar temor e espanto. Entrava nos botequins agitando uma maça medieval, batia com ela nos balcões, dava ordens ampliando a potência da sua voz muito grave. Impossível acreditar que, além daquela exibição, havia a candidez de um menino na alma de um samaritano.

Gostava também de armas de calibres cinematográficos. Sabia usá-las e com elas desenvolveu a exatidão de uma pontaria certeira. Em plena madrugada, atingiu com um tiro o aparelho de som estridente e agressivo na festa de um prédio em frente. Desfilava pelo bairro de sunga e sem camisa, em qualquer tempo, de calor ou frio, de sol ou de chuva.

Alimentava os cães de rua, conversava animadamente com os mendigos, enternecia-se dando ajuda às velhinhas solitárias. Fascinava as crianças, que lhe devotavam profunda admiração. Conversava com elas como se fossem adultas, contava-lhes façanhas imaginárias. Desapareceu no mar, numa noite em que bebeu uma garrafa de vodca e mergulhou num ponto qualquer além da quebrada das ondas. Gostava de ser chamado Ivan, o Terrível.

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