Andar, passear nas ruas de madrugada, quando diminuem os
barulhos e as sombras dramatizam os recantos mal iluminados. Quase todos os
botequins estão fechados, um ou outro ainda se destaca pela luz que jorra da
porta escancarada. O Cervantes, na Prado Junior, lava o chão para encerrar às
quatro horas em ponto o expediente do dia. Um único cliente está encostado no
balcão diante de um copo de chope.
A praia está deserta, dá para enxergar aqui e ali,
protegidos pelo calçadão, alguns moradores de rua que dormem na areia. Pequenos
bandos de crianças que se recolheram
aguardando o dia seguinte. Com o retorno do sol, voltarão ao arriscado trabalho
de assaltar os turistas.
As prostitutas quase todas já encerraram a faina da noite.
Apenas uma negra, de saia muito curta e muito justa, acena para os carros e exibe
o corpo bem torneado. Uma névoa se adensa pela praia, Copacabana exibe um ar de
quietude, de distância e de erma solidão. O som das ondas de vez em quando
quebra o silêncio, um vira-lata amarelo atravessa com tranquilidade a Avenida
Atlântica e vai se aninhar debaixo de um banco. Tenho a impressão de que já o
vi antes, na companhia de um mendigo velho e magro que anda desaparecido das
ruas.
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