quarta-feira, 13 de abril de 2016

Infância



De sete para oito anos, costumava acordar muito cedo e os adultos o cuidavam, davam-lhe ordens e diziam o que deveria fazer em seguida. Detestava o banho e as lições, adorava o tempo em que, sozinho, comandava os pequenos bonecos de cera em improvisadas aventuras imaginárias. Havia conflitos entre os bonecos mas também passeios em paisagens extraordinárias, descobertas de monstros, companhia de duendes, risos e choro de ódio ou de desespero.

Contemplava o mundo, imaginava e se divertia. Os adultos, ao vê-lo silencioso e quieto, o chamavam filósofo e interrompiam seus momentos de paz incentivando brincadeiras, fazendo pilhérias, ditando o que ele deveria fazer em seguida. Outras crianças o divertiam mas também o irritavam, faziam-no calar ou rir mas na verdade preferia ficar sozinho e criar um mundo com os bonecos de cera.

Estudava no princípio da tarde e no começo da noite ainda explorava os cantos do quintal, até ser chamado para comer e em seguida dormir um sono de sonhos esquisitos. Voava e também caia mas nunca atingia o chão, era um abismo sem fim, uma vertigem de queda veloz até acordar e dormir de novo. Só muito tempo depois, adulto, pensou na solidão que abriga a alma das crianças.

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