De sete para oito anos, costumava acordar muito cedo e os
adultos o cuidavam, davam-lhe ordens e diziam o que deveria fazer em seguida.
Detestava o banho e as lições, adorava o tempo em que, sozinho, comandava os
pequenos bonecos de cera em improvisadas aventuras imaginárias. Havia conflitos
entre os bonecos mas também passeios em paisagens extraordinárias, descobertas
de monstros, companhia de duendes, risos e choro de ódio ou de desespero.
Contemplava o mundo, imaginava e se divertia. Os adultos, ao
vê-lo silencioso e quieto, o chamavam filósofo e interrompiam seus momentos de
paz incentivando brincadeiras, fazendo pilhérias, ditando o que ele deveria
fazer em seguida. Outras crianças o divertiam mas também o irritavam, faziam-no
calar ou rir mas na verdade preferia ficar sozinho e criar um mundo com os
bonecos de cera.
Estudava no princípio da tarde e no começo da noite ainda
explorava os cantos do quintal, até ser chamado para comer e em seguida dormir
um sono de sonhos esquisitos. Voava e também caia mas nunca atingia o chão, era
um abismo sem fim, uma vertigem de queda veloz até acordar e dormir de novo. Só
muito tempo depois, adulto, pensou na solidão que abriga a alma das crianças.
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