Uma criança de colo chora seu pranto intermitente. Ela está
com medo, o barulho dos motores a assusta, está impaciente e não consegue
dormir, igual a muitos outros passageiros do avião. Alguns passeiam pelos
corredores, almas semoventes, procuram aliviar as dores nas pernas ou apenas
passar o tempo interminável do voo de onze horas até Paris. Logo em seguida
embarcar noutro avião para Toulouse, onde dormirei para depois pegar a estrada
que me levará a Cahors.
Toulouse, antiga capital do reino visigodo, é uma cidade
habitada por muitos jovens porque lá se encontra uma das mais antigas
universidades da Europa. Exibe a descontração da juventude. Em sua bela Praça
do Capitólio encontro uma animada feira natalina, exuberante e alegre,
desmentindo o que se poderia esperar num país que se encontra de luto pela
violência cometida em sua capital contra tantas vítimas inocentes.
Cahors é finalmente avistada, enlaçada numa quase ilha
formada pelo rio Lot. Penso em como é longa a viagem até aqui. Quase vinte e
quatro horas desde o embarque no Galeão. Revejo as velhas ruas da cidade antiga
e os bares tranquilos onde vou beber e fechar este ano trágico e cheio de
sangue que será lembrado pela morte de tantos amigos e do meu irmão. Não é
verdade o que se diz. A vida não vai continuar como antes. Cada ano que passa
fica em nossa memória arrastando consigo os fantasmas das suas perdas.
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