quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Viagem


Uma criança de colo chora seu pranto intermitente. Ela está com medo, o barulho dos motores a assusta, está impaciente e não consegue dormir, igual a muitos outros passageiros do avião. Alguns passeiam pelos corredores, almas semoventes, procuram aliviar as dores nas pernas ou apenas passar o tempo interminável do voo de onze horas até Paris. Logo em seguida embarcar noutro avião para Toulouse, onde dormirei para depois pegar a estrada que me levará a Cahors.

Toulouse, antiga capital do reino visigodo, é uma cidade habitada por muitos jovens porque lá se encontra uma das mais antigas universidades da Europa. Exibe a descontração da juventude. Em sua bela Praça do Capitólio encontro uma animada feira natalina, exuberante e alegre, desmentindo o que se poderia esperar num país que se encontra de luto pela violência cometida em sua capital contra tantas vítimas inocentes.


Cahors é finalmente avistada, enlaçada numa quase ilha formada pelo rio Lot. Penso em como é longa a viagem até aqui. Quase vinte e quatro horas desde o embarque no Galeão. Revejo as velhas ruas da cidade antiga e os bares tranquilos onde vou beber e fechar este ano trágico e cheio de sangue que será lembrado pela morte de tantos amigos e do meu irmão. Não é verdade o que se diz. A vida não vai continuar como antes. Cada ano que passa fica em nossa memória arrastando consigo os fantasmas das suas perdas.

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