Tímido, indeciso, o sol volta a aparecer mas outubro começou
com as nuvens cinzas que trouxeram chuva e esvaziaram a praia. Copacabana retorna a seus dias mais
calmos, que se desmentem pelos engarrafamentos da manhã e do fim da tarde.
Marquinhos, o maluco da vizinhança, andava sumido e reapareceu limpo,
barbeado e de roupa nova. Tenta organizar o trânsito, dirige raiva e condenação
aos motoristas que ousam parar nos limites da faixa de pedestres. Seu olhar
amedronta, as mulheres fogem.
Os velhinhos do bairro voltam a frequentar a fila dos bancos
e supermercados. Tropeçam nas calçadas de pedras portuguesas, socializam,
reclamam, esperar na fila é parte do seu dia. Desconfio que amam este momento
em que fogem da solidão e tentam mudar o mundo enquanto esperam e reclamam.
A temperatura amena trazida pelas chuvas é das últimas do
ano, que em breve retornará ao verão, a estação mais louca. Os turistas já começaram
a chegar, um pouco tristes pela falta de sol. Mas em breve estarão queimados e
vermelhos, a temperatura sufocante atacará de novo e os velhinhos, humilhados
pelo calor, reclamarão nas filas, tropeçarão nas pedras das calçadas e, aos
fins de semana, diante da televisão, voltarão a sentir medo dos arrastões.
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