Às vezes tenho a impressão de vê-la em algum canto da casa.
A imagem do seu movimento elegante de insinuar-se por entre os móveis
procurando caminho até chegar onde eu estava, aproximar-se e depois aninhar-se
a meu lado. Ou quando tiro os olhos do monitor para vê-la cochilando ao lado da
tela.
Ela me acompanhava para onde eu fosse dentro do apartamento
e, quando saia, me acompanhava até a porta. Na volta, ignorava por algum tempo
a minha presença como para me dizer que eu não lhe fizera falta. Ambos sabíamos
que era uma forma de punir a ausência porque, pouco depois, ela retomava o
hábito de me seguir para onde eu fosse.
Por isso a memória traz a sua presença. No quarto, na sala,
no escritório onde trabalho e agora escrevo este post com uma imagem que sempre
retorna a minha memória: a de seu olhar fixo, ela já muito doente, olhando
dentro dos meus olhos. Foi no dia em que saí de viagem para nunca mais voltar a
vê-la.
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