As nuvens se movem nas sombras do inverno. Fios de chuva
fina acompanham seu movimento e as ruas da cidade constroem espelhos nas
pequenas poças d’água que refletem a cor cinza do firmamento. O silêncio
predomina sobre o distante barulho dos poucos automóveis, o ladrar de um cão
acentua a distância das coisas, torna ainda mais aguda a solidão da tarde.
O ritmo distante de uma sinfonia se aproxima e aos poucos se
mistura ao marulhar do vento, envolve o que resta de silêncio, sufoca e cala a
réstea de coisas ainda mais antigas. Os olhos procuram situar os limites dessas
paragens, afastá-las da sombra, iluminar o que restou da escuridão .
Um velho abre a janela e olha para o horizonte sombrio.
Procura entre as recordações, lembra-se de rostos esquecidos, tateia no escuro
da alma que uma vez mais se move na direção dos ventos, na dor profunda de lembranças,
na opacidade das memórias apagadas.
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