O executivo da multinacional que me acompanhou durante dez
dias bebia muito. Todos os expatriados que moravam na Nigéria, naquele tempo,
bebiam muito. A paisagem era feia e confusa na imperfeita cidade de Lagos. No
dia em que cheguei oito acusados de roubo foram fuzilados na quente manhã de
sol, perto do hotel, numa praia da Ilha Vitória, que foi urbanizada no tempo
dos ingleses. Vimos os condenados passar conduzidos na carroceria de um caminhão
sinistro.
Durante muito tempo não consegui esquecer os rostos negros e
tristes, o olhar perdido em algum ponto que não era ali, naquele lugar, a praia
aonde foram conduzidos para serem mortos. O mais jovem era quase um menino, o
jornal dizia que havia roubado um aparelho de som.
Na tarde do mesmo dia fomos para o aeroporto para embarcar em
direção a Kaduna. O voo atrasou como sempre. Marcado para as duas da tarde, decolou às sete da noite. Passamos o tempo no
bar miserável, lotado e barulhento. Quando embarcamos estávamos bêbados. Durante
a viagem continuamos a beber de uma garrafa que trouxéramos na mala de mão. Alguns
muçulmanos estenderam tapetes no corredor do avião e rezaram em direção a Meca.
Conversamos sobre muitas coisas, bêbados mas no entanto conscientes. Não conseguimos
falar daqueles que haviam sido fuzilados, naquela manhã, na praia da Ilha
Vitória.
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