Sua alegria deixava no entanto transparecer a tristeza que
seus gestos largos, o riso aberto e a forma franca de falar não conseguiam
esconder. Talvez nesses momentos ela se achasse mesmo feliz, pois assim representava, incapaz
de uma palavra que pudesse desmentir aquela euforia diante dos
acontecimentos da vida.
Assim ela era. Ou como os outros a viam. É mesmo difícil
perceber quando há uma sombra no fundo do olhar enquanto a boca e o riso
procuram acompanhar gestos largos mas aflitos. Sua voz era sempre alta, às vezes
parecia expressar timidez, em outras transmitia o ligeiro tremor que perpassa as
almas em desespero.
A maior lembrança da sua presença não me vem da felicidade
em que todos acreditavam mas sim da melancolia, da desesperança que seus olhos transmitiam
discretamente, sufocando o riso. Num dia muito claro, de muito sol sobre as
praias do Rio de Janeiro, quando ela se matou, todos os que a conheciam se
disseram chocados, surpreendidos pelo inesperado. Mas seu olhar sempre
anunciara aquilo.
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