Quando nos conhecemos éramos muito jovens e cada um de nós pai
de duas filhas. Egressos do jornalismo, trabalhávamos na mesma agência de
publicidade, pois para quem era muito jovem, tinha família e precisava de
dinheiro, a publicidade pagava melhor. Numa prolongada noite em um bar de Belo
Horizonte selamos nossa amizade. Descobrimos que havíamos lido os mesmos
livros, ouvido as mesmas músicas, gostávamos dos mesmos filmes e tínhamos a
mesma visão do mundo.
Foi um encontro que durou mais de cinquenta anos. Perpassamos
ideias, tivemos vitórias e fracassos,
vivemos num país em que muitos amigos morreram na prisão sob tortura,
algumas vezes nos separamos e tornamos a nos encontrar. Continuávamos a
conversa interrompida. Ele, cristão. Eu, não tinha Deus como referência porque não
recebi a graça da fé. Mas ambos acreditávamos na luta pela justiça social, na
paz e no destino superior do homem.
Sua morte me fez pensar na passagem do tempo, no tempo cujo
significado é a vida presente. O futuro é sempre o lugar em que estamos e o
passado é feito de momentos mortos. Do
passado restarão apenas a intensidade de alguns instantes vividos, o amor pela
vida e uma antiga e boa amizade. Hoje, dia 15, era seu aniversário.
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