A viagem de 11 horas atravessando o Atlântico a deixou
inquieta, de mau humor, no desespero da prisão de uma caixa sem conforto. Miou
seu protesto durante todo o voo até a chegada num aeroporto movimentado,
ameaçador. Submeteu-se com paciência ao exame minucioso das autoridades e aguardou
curiosa a apresentação dos certificados que atestavam a sua saúde. Para quem
havia saído do clima do Rio em pleno calor de janeiro, não pareceu estranhar o
frio intenso da cidade desconhecida.
Ocupou a nova casa, bem menor que a anterior, e percorreu
cada canto enquanto a pequena cadela, silenciosa durante toda a viagem, a
acompanhava com os olhos. Nos poucos dias de sol das primeiras semanas,
procurava os raios filtrados pelas nuvens para fugir do frio do Norte de Portugal.
Em breve, ambas sentiram-se à vontade, adaptadas a um país diferente.
Acostumou-se ao canto dos novos pássaros e às árvores que
não eram mais as palmeiras que lhe fizeram companhia desde quando era um
filhote ingênuo. Tornou-se amiga de uma oliveira plantada no pequeno jardim e
passou a perseguir os insetos estranhos que habitam a nova paisagem. Ainda não lhe
foi possível caçar uma das gaivotas do Rio Douro mas também não desistiu. Algum
dia vai conseguir, pois a vida é assim - desafiante, trazendo consigo a
permanente surpresa das emoções até então desconhecidas e que lhe dão
significado e sentido.
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