Em um verso de uma das suas composições memoráveis, Luiz
Gonzaga diz “quem deixa a terra natal em outro canto não para”. Ao desenterrar
as raízes, o sentimento é o de não pertencer mais a lugar nenhum. O retirante
despede-se das suas referências sentimentais e segue um rio de corrente agitada,
margens inóspitas e portos desconhecidos.
O próprio lugar de onde um dia partiu não existirá mais.
Como disse Drummond, será apenas um doloroso retrato na parede. Nada restará da
paisagem da infância, apenas um ou outro ponto de lembrança numa paisagem esquecida.
As cidades se perdem com o tempo, em seu lugar surgem cenários diferentes,
estranhos, desconhecidos, sem memória.
O tempo é um redemoinho de lembranças cujas formas
desapareceram dentro do próprio tempo e foram reconstruídas de emoções tardias.
Pouco ficou gravado na alma da criança antiga, só inquietações e o desejo de
partir novamente como ave de arribação. Os sonhos seguem na direção de destinos
desconhecidos, onde talvez tenha sido semeada a esperança.
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