Podemos ver o mundo em diferentes dimensões porque a realidade depende de perspectivas, situações, lugares e estados da alma, dizia Doka. O mundo é diferente quando se está sóbrio ou quando se está bêbado. Afirmava que o maior problema filosófico da humanidade é que Deus não existe mas o diabo existe. Dizia não ter medo de Deus ou do diabo, mas temia os seus fantasmas interiores.
E onde residiam esses fantasmas que nos assombram e, de um modo ou de outro, nos acompanham pelo traçado das nossas vidas? O mundo é um lugar sombrio, incompreensível e ameaçador e os fantasmas se alojam nas emoções, nos medos sem origem, nos passos noturnos que silenciosamente se aproximam, imperceptíveis, de onde as crianças dormem.
Ele também não acreditava no destino nem na vocação superior dos santos pois nem a vida, nem o sonho, nem sequer a esperança acalentam a náusea que acompanha os infantes e os adultos enquanto vivos. Pouco antes de desaparecer para sempre, Doka disse, já meio bêbado, que viver é como um breve raio de sol numa praia estranha. Citava Conrad, que assim se referiu à juventude.
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