Andar por andar – somente. Quase noite, o verso de Cecília
se repete em minha memória enquanto ando pelas ruas de Copacabana. Um velho
amparado numa bengala olha para o espaço à sua frente. Como se estivesse
sozinho na multidão que se desloca ao longo do espaço entre a parede e o
meio-fio. As lojas abertas e iluminadas procuram transmitir alegria a quem
passa com um otimismo planejado para vender mercadorias. As calçadas são fluxos
humanos infindáveis.
Os garis varrem os limites da rua. Eles são invisíveis,
despercebidos como os velhos que transitam quase rentes ao bloco dos edifícios.
Uma mulher negra, magra, com o ventre inchado pela gravidez, corre apressada
levando uma criança nos braços e outra pela mão como se estivesse assustada,
olha seguidamente para trás. Uma sirene da polícia superpõe o seu som irritante
ao barulho dos motores.
Os homens e mulheres que distribuem folhetos de propaganda
insistem com os passantes. Poucos são os que concordam em recebê-los. Mais
adiante um deles, muito sujo, muito magro, veste um cartaz onde se destaca em
letras maiores “Compro ouro”. Está separado do grupo que exibe vários desses
cartazes. E os versos de Cecília se repetem: “Andar... – enquanto consente Deus
que seja a noite andada”.
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