Da mesa do botequim, assisto à passagem do bloco. Não é um
desses grandes em que desfilam milhares de pessoas a cada fim de semana nestes
dias que antecedem o carnaval. Nem chega a interromper o trânsito da Barata
Ribeiro, vai pelo canto da rua, não tem licença da prefeitura nem belas
mulheres seminuas atraindo fotógrafos de jornal e câmeras da televisão.
Segue atrás de uma velha kombi com o som de marchinhas
antigas, formado de foliões que exibem sua pobreza nos biquinis descorados e
chinelos sem cor. Desceram os morros de Copacabana, improvisaram o bloco e lá
vão eles anunciando que o carnaval é também do povo.
No que seria a comissão de frente, um grupo que se destaca
na formação caótica, vejo um rosto conhecido que dança animado na companhia de
uma mulata bonita que ele abraça pela cintura. Costumo vê-lo no sinal da Rua
Princesa Isabel. Lá, ele pede dinheiro aos motoristas e quase não consegue
andar. Seus movimentos são os de quem é portador de paralisia cerebral mas
costuma também aparecer com sintomas diferentes de outras deficiências. O bloco
lhe oferece cura temporária e o direito de também amar e se divertir.
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