Foram anos sombrios de amigos presos, outros exilados,
notícias de tortura, morte e desaparecimentos. Eu pensava nisso enquanto olhava
o general e de repente ele me encarou de volta, franziu as sobrancelhas e desviou o
olhar.
Algo acontecera ali, naquele instante. Percebi a preocupação
no rosto do general, que a cada momento tornava a me olhar, me vigiar. E
desviava os olhos. Ele estava com medo. Um desconhecido o observava num
restaurante, com um tipo de curiosidade que ele julgava ameaçadora. E por isso teve
medo. Chamei o garçon, paguei a conta e mergulhei no anonimato da rua. O medo é
uma síndrome que pode atacar de repente o mais cruel e poderoso dos homens.
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