A floresta de prédios toma conta da paisagem. À distância,
há gente a fazer algo que não se compreende. Binóculos são instrumento do voyerismo habitual nas cidades montadas
em concreto. Com eles os vizinhos, cada vez mais distantes uns dos outros, se
espionam.
Adolescentes – e outros nem tão jovens – procuram acompanhar
das janelas a rotina da moça lá longe que troca a roupa descuidada dos olhares.
A velha que se debruça sobre o movimento da rua vai depois ao telefone falar sobre
o que viu com outra velha que também mora no bairro, a duas quadras, mas há
meses elas não se vêem.
Há jardins e coberturas, chaminés estranhas e telhados sobre
as lajes de cimento; escadas enigmáticas conduzindo a recantos misteriosos,
plantas, animais, homens e mulheres que não se falam e um tédio imenso cobrindo
a solidão de todos.
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