Ela se divertia me dando sustos. Escondia-se atrás dos
móveis, esperava-me entrar e fingia um ataque. Era bem-humorada, irrequieta,
curiosa. E de extraordinária beleza. Conseguia pegar um passarinho em pleno
voo, investigava a casa inteira e dava conta de qualquer coisa que estivesse
fora do lugar.
Quando caiu do oitavo andar, passou dois dias desaparecida
até ser encontrada numa área escondida do prédio. Estava ferida, uma perna
fraturada mas viva e assustada. Sofreu uma cirurgia, foi-lhe implantada uma
prótese de metal e passou a mancar. Mas continuou ativa, rápida, e não perdeu o
bom-humor.
Depois ela adoeceu. Os rins deixaram de funcionar, talvez
uma sequela da queda. Ficou vários dias internada, sem melhoras. Quando fui
visitá-la, estava com o pelo duro, eriçado, porque já não conseguia limpar-se.
Os olhos estavam fechados. Ao reconhecer minha voz, conseguiu levantar-se,
emitiu um miado fraco e triste e depois tornou a deitar-se. Naquela mesma noite
foi sacrificada.
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