O homem ria mas seus olhos eram frios, não espelhavam a
ternura comum aos sorrisos. A menina não o olhava, desviava o olhar para as
outras mesas do restaurante. A mulher, mãe da menina, embora tímida,
mostrava-se encantada com o que o homem lhe dizia. Parecia uma cena familiar
num almoço de domingo. Mas havia entre eles um tipo de ansiedade que não é comum
nos almoços de domingo.
Ele falava muito alto comparado com o tom de voz das outras
pessoas naquele salão. Aos poucos, pelo que diziam, compreendi que haviam se
conhecido pela internet. Parecia ser o primeiro encontro pessoal entre eles. A
mulher levara a filha talvez porque não tivesse com quem a deixar. O homem
ignorava a menina e fazia perguntas à mulher sobre a sua vida e o seu passado.
A mulher não tinha beleza, apesar da maquiagem em seu rosto
triste. Percebia-se que maquiar-se não fazia parte dos seus hábitos de todo
dia. O homem vestira-se com apuro e vaidade. Penteara com cuidado os cabelos
negros e compridos e fazia perguntas enquanto sorria o seu sorriso estranho. Na
rua, uma chuva fina molhava as calçadas de pedras portuguesas. O grasnar de uma
gaivota lembrou a presença do grande rio que passava ali perto e desfilava suas
águas tranquilas numa corrente infinita.
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