quinta-feira, 4 de agosto de 2016

De profundis


A cidade excitada pelos jogos olímpicos, a ocupação militar e as hordas de turistas, tudo mesclado com uma crise que aos poucos vai agravando seus conflitos. A festa não aplaca a ansiedade, há um tipo de tristeza rebelde no ar das ruas e o inverno redistribui suas sombras esfriando o sol. O bairro não esconde o seu medo, o trânsito louco paralisa o olhar dos pedestres sob os gases dos motores.

Desapareceram os pardais espantados pelos pombos sombrios, a poda das árvores revela galhos ressequidos e o limiar das tormentas repousa sob o silêncio. Há uma nave desgovernada solta em mares desconhecidos que aprofundam a angústia dos passageiros, alimentam camundongos. Não há um só dia que não desperte as trevas destes tempos.


O riso se dissolveu na noite habitada pelos miseráveis, uma madrasta espreita a morte e desilusões acobertaram o sonho dos meninos. Existe apenas uma indefinida linha no horizonte, nuvens de chuva se aproximam e a luz do sol insiste em espalhar raios estranhos. Eles são cada vez mais frios.

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