A cidade excitada pelos jogos olímpicos, a ocupação militar
e as hordas de turistas, tudo mesclado com uma crise que aos poucos vai agravando
seus conflitos. A festa não aplaca a ansiedade, há um tipo de tristeza rebelde
no ar das ruas e o inverno redistribui suas sombras esfriando o sol. O bairro
não esconde o seu medo, o trânsito louco paralisa o olhar dos pedestres sob os gases
dos motores.
Desapareceram os pardais espantados pelos pombos sombrios, a
poda das árvores revela galhos ressequidos e o limiar das tormentas repousa sob
o silêncio. Há uma nave desgovernada solta em mares desconhecidos que aprofundam
a angústia dos passageiros, alimentam camundongos. Não há um só dia que não
desperte as trevas destes tempos.
O riso se dissolveu na noite habitada pelos miseráveis, uma madrasta
espreita a morte e desilusões acobertaram o sonho dos meninos. Existe apenas
uma indefinida linha no horizonte, nuvens de chuva se aproximam e a luz do sol
insiste em espalhar raios estranhos. Eles são cada vez mais frios.
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