Uma cidade tem alma e uma forma que a tornam diferente
de todas as outras. Visitar uma cidade é como conhecer alguém de quem vamos nos
tornar amigos ou quem sabe vê-la de maneira indiferente. É possível até vir a
amá-la, como se amam os seres e as coisas que nos provocam deslumbramento. Mas
é preciso desvendar o que nela existe e que não se revela ao primeiro olhar.
Uma cidade é feita dos seus mais trágicos, marcantes acontecimentos, das suas
crenças e da história de quem nela habita.
Não existem paraísos urbanos, pois os conflitos povoam os
lugares onde as pessoas se juntam para viver. A paisagem escolhida, as águas
dos mares ou dos rios que passam definem o olhar de quem os contempla. E de
quem neles vive. As cidades oceânicas são abertas aos estrangeiros, as de
ribeiras precisam ser decifradas. E nem sempre se revelam plenamente.
Podemos levar toda uma vida numa cidade e nunca ser capaz de
entende-la. Mas existem algumas que absorvem e conquistam a quem lhes dedicar
atenção, curiosidade e fascínio. Sua alma transcende os edifícios e as praças,
ilumina as águas, reflete mesmo o olhar curioso de uma criança que parecia
ter-se perdido no passado, na bruma e no esquecimento. Uma cidade é um coração,
um punho, como disse o poeta.
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