É difícil explicar o amor. Camões disse que é uma ferida que
arde sem se ver. Shakespeare o definiu como beleza, bem, verdade. Vastidão de
emoções que confunde o entendimento humano, centenas de definições foram
enunciadas mas delas fica sempre a sensação de que estão incompletas. E permanece
o abismo entre o sentir e o entender.
Aristófanes, na Grécia antiga, durante um jantar que Platão
descreveu segundo depoimentos que ouviu de quem estava presente, explicou o
amor. Num passado distante, os seres eram inteiriços. Tinham quatro braços, o
mesmo número de pernas, dois rostos numa mesma cabeça. Eram poderosos e
valentes. Desafiaram os deuses e foram castigados.
E divididos. De cada um surgiram duas partes com metade das
pernas, dos braços, uma cabeça e um só rosto. Separadas uma da outra, as duas
partes procuram até hoje se achar. Ansiosamente, desesperadamente, na
angustiada busca uma da outra. Às vezes durante toda a vida. Muitas não
conseguem jamais se encontrar mas há outras que ao ver reconhecem de imediato a
parte que os deuses lhe tomaram. E ambas voltam a se unir com a intensidade de
todos os sentimentos humanos. É isto o amor, disse Aristófanes.
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