quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Cena de rua



Eles estão deitados na calçada da pequena praça, dormem no dia claro, de sol luminoso e forte calor neste apogeu do verão. O barulho dos automóveis e o acelerar dos ônibus não são capazes de acordá-los. Dormem profundamente em pleno dia de trabalho, comércio intenso, lojas abertas e transeuntes apressados.
Devem ter se recolhido nas últimas horas da madrugada, quando são menores os perigos da noite e por isso os mendigos do bairro costumam dormir na companhia de um cão que os protege. Eles só têm um ao outro e ambos dormem profundamente. Ela coloca com cuidado o braço protetor sobre as suas costas.
Em volta, alguns pertences desarrumados, duas bolsas de aparência um pouco cara e origem talvez clandestina. As pessoas que passam, umas olham-nos com desprezo, outras com alguma indignação por um quadro que lhes parece triste e feio. Para muitos eles são invisíveis, fazem parte de uma paisagem miserável a que o bairro já se acostumou. Refletem também, na intensidade anônima da rua, uma desajeitada e silenciosa cena de amor. Mas esta passa despercebida.

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