Eles estão deitados na calçada da pequena praça, dormem no
dia claro, de sol luminoso e forte calor neste apogeu do verão. O barulho dos
automóveis e o acelerar dos ônibus não são capazes de acordá-los. Dormem
profundamente em pleno dia de trabalho, comércio intenso, lojas abertas e transeuntes
apressados.
Devem ter se recolhido nas últimas horas da madrugada,
quando são menores os perigos da noite e por isso os mendigos do bairro
costumam dormir na companhia de um cão que os protege. Eles só têm um ao outro
e ambos dormem profundamente. Ela coloca com cuidado o braço protetor sobre as
suas costas.
Em volta, alguns pertences desarrumados, duas bolsas de
aparência um pouco cara e origem talvez clandestina. As pessoas que passam, umas
olham-nos com desprezo, outras com alguma indignação por um quadro que lhes parece
triste e feio. Para muitos eles são invisíveis, fazem parte de uma paisagem
miserável a que o bairro já se acostumou. Refletem também, na intensidade anônima
da rua, uma desajeitada e silenciosa cena de amor. Mas esta passa despercebida.
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