Em suas cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke o
aconselhava a voltar os olhos para a própria infância, quando não encontrasse
inspiração para a poesia. Volte a sua atenção para ela, disse, e procure fazer
ressurgir as imensas sensações desse vasto passado.
Nem todos se lembram da infância, como Paulo Mendes Campos
ao dizer “sou restos de um menino que passou”. O adulto costuma manter
prisioneira a criança que teima em sobreviver e que às vezes o faz despertar na
noite escura da alma, onde são sempre três horas da manhã, no dizer de São João
da Cruz.
Somos todos restos de nós mesmos, tateamos no escuro das
sensações vividas que enterramos como lembranças esquecidas. A criança que permanece
viva ainda não aprendeu a formular palavras mas insiste em nos dizer que não
estamos prontos para a poesia nem para o entendimento da lógica do mundo.
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