sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Estações


O bairro amanhece sombrio nesses dias de típico inverno, quando o céu de chumbo saturado de nuvens cobre o tempo e molha as calçadas escorregadias. As ruas quase desertas, bares vazios, algumas poucas velhinhas arriscam-se a sair de casa para a rotina diária das compras. Copacabana hiberna, o verão ainda demora um pouco mas a primavera está próxima e anuncia com chuvas a sua chegada.

Não temos as estações do ano tão marcadas como nos países do Hemisfério Norte. Mas alguns dias de frio nos trazem a inconsciente memória de países distantes. Com exceção dos indígenas, no Brasil somos todos exilados, viemos de outras terras, trazemos no rosto a marca de origens distintas na África, na Europa, no Oriente e na Ásia.


Sob a chuva fina, uma mulher atravessa a rua, um automóvel buzina de forma estridente, uma criança corre e um cão tristonho mija no tronco de uma árvore na Praça Serzedelo Correia, onde João Antonio morreu. Há uma atmosfera vazia neste lugar onde tanta gente costuma o ano inteiro aglomerar-se nos prédios, na praia, na confusão das ruas. Copacabana mergulha no cinza das brumas, espera o calor do sol para voltar a viver a sua vida em que se misturam abandono, solidão e caos.

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