O bairro amanhece sombrio nesses dias de típico inverno,
quando o céu de chumbo saturado de nuvens cobre o tempo e molha as calçadas
escorregadias. As ruas quase desertas, bares vazios, algumas poucas velhinhas
arriscam-se a sair de casa para a rotina diária das compras. Copacabana
hiberna, o verão ainda demora um pouco mas a primavera está próxima e anuncia com
chuvas a sua chegada.
Não temos as estações do ano tão marcadas como nos países do
Hemisfério Norte. Mas alguns dias de frio nos trazem a inconsciente memória de
países distantes. Com exceção dos indígenas, no Brasil somos todos exilados, viemos
de outras terras, trazemos no rosto a marca de origens distintas na África, na
Europa, no Oriente e na Ásia.
Sob a chuva fina, uma mulher atravessa a rua, um automóvel
buzina de forma estridente, uma criança corre e um cão tristonho mija no tronco
de uma árvore na Praça Serzedelo Correia, onde João Antonio morreu. Há uma
atmosfera vazia neste lugar onde tanta gente costuma o ano inteiro aglomerar-se
nos prédios, na praia, na confusão das ruas. Copacabana mergulha no cinza das
brumas, espera o calor do sol para voltar a viver a sua vida em que se misturam
abandono, solidão e caos.
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