Doka bebia muito. Dizia que, lúcido, não conseguia entender
o mundo. Existem tantas perguntas sem respostas e tantas indagações que os
pensamentos se misturam e passam a pedir algo que possa controla-los, dizia. E
os vícios são mais ricos que a virtude. Era assim que ele se destruia, por uma
compulsão que o levava para fora da vida.
Pensava muito na infância, sem romantismo. Dizia que era uma
fase de debilidade mental que, infelizmente, todos precisam passar por ela. Não
tinha nítidas lembranças do seu tempo de criança, apenas de momentos muito
rápidos, flashes de memória que não demoravam tempo suficiente para compreendê-los.
Não era um tipo de fácil convivência, o que talvez explique
os quatro casamentos que ele próprio havia destruído. Todas as manhãs, quando
se levantava, dedicava um tempo à meditação mas não chegava a lugar nenhum, achava
que era um tempo que diariamente perdia. Doka era um gênio às avessas, que duvidava
de tudo e nada compreendia. Dizia amar apenas o ruído das marés e as noites de
tempestade.
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