domingo, 26 de julho de 2015

Doka


Doka bebia muito. Dizia que, lúcido, não conseguia entender o mundo. Existem tantas perguntas sem respostas e tantas indagações que os pensamentos se misturam e passam a pedir algo que possa controla-los, dizia. E os vícios são mais ricos que a virtude. Era assim que ele se destruia, por uma compulsão que o levava para fora da vida.

Pensava muito na infância, sem romantismo. Dizia que era uma fase de debilidade mental que, infelizmente, todos precisam passar por ela. Não tinha nítidas lembranças do seu tempo de criança, apenas de momentos muito rápidos, flashes de memória que não demoravam tempo suficiente para compreendê-los.


Não era um tipo de fácil convivência, o que talvez explique os quatro casamentos que ele próprio havia destruído. Todas as manhãs, quando se levantava, dedicava um tempo à meditação mas não chegava a lugar nenhum, achava que era um tempo que diariamente perdia. Doka era um gênio às avessas, que duvidava de tudo e nada compreendia. Dizia amar apenas o ruído das marés e as noites de tempestade.

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