Faz tempo que não os vejo juntos, os quatro velhinhos gays.
Costumavam sentar-se no botequim da esquina e nas manhãs de sábado concentravam
a atenção na saida do metrô. Deleitavam-se alegremente com a chegada dos jovens
que vinham do subúrbio. E trocavam comentários sobre a beleza da juventude que
desfilava em direção à praia.
Um deles aparentava estar doente. Muito pálido, apoiado na
bengala, mas não parecia disposto a se entregar. Fumava e bebia muito. Outro,
bem vestido, elegante, olhava em volta como se estivesse entediado com a
mediocridade e a falta de classe de Copacabana. Percebi que na conversa entre
eles costumava mencionar lugares de Paris que conhecera quando jovem.
Este ainda está presente nos lugares de antes. Caminha com
dificuldade, apoiado ao braço de uma acompanhante e às vezes senta-se a uma
mesa do mesmo botequim. Permanece calado e ausente, como se não houvesse
ninguém a seu lado, apenas as brumas cinzas que misturam presente e passado
na solidão dos velhos.
Um comentário:
Celso, muito bonito seu texto sobre os quatro amigos que experimentam a tragédia da velhice. Na sociedade mercadológica tem valor o que vende, o que é trocado,o que pode ser útil nas transações comerciais. Nas amizades, nos círculos familiares, no mundo universitário, nas religiões o novo é sempre o mais desejado, o mais aplaudido.talvez nenhum exemplo seja tão bom da sociedade líquida de que fala Balm do que este despreszo pelo antigo e este endeusamente do que é novo.Parabéns .Jales e Otaviana
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