Estávamos no bar em
Areias, no interior da Paraiba. No rádio, Luiz Gonzaga cantava um baião cuja
letra saúda o “sertão de mulher séria e homem trabalhador”. O amigo, com
ironia, disse que Luiz Gonzaga há muito tempo não visitava o Sertão. Em sua
frase maliciosa havia algum preconceito mas havia nela também o reconhecimento
de que o Sertão havia mudado.
As imagens da seca na TV, onde se destacam as ossadas de
animais mortos de sede, mostram no entanto que as mudanças não foram tão
grandes assim. Estes ícones dramáticos têm permanecido os mesmos
através dos anos e repetem que o fantasma da fome ainda assombra o povo
sertanejo.
As cidades médias e grandes do Brasil obedecem a um mesmo
plano de urbanização: uma avenida asfaltada que constitui um eixo de onde saem artérias
secundárias. Um desenho originado nas mesas dos burocratas e dos engenheiros
que ignoram o homem e imaginam a urbe como espaço para o trânsito privilegiado dos
automóveis. As pequenas vilas sertanejas, essas continuam reféns da sua própria
solidão.
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