Há uma dimensão da vida em que o real se entrelaça com o
sonho e o imaginário se transforma no terreno dos mitos. Seria o que Poe
imaginou como um sonho dentro de um sonho, uma região em que vida, vivência e
morte, numa aparente realidade, não passariam de um delírio da loucura humana.
Os loucos, como é o caso do Marquinhos, o maluco da
vizinhança, vivem sua experiência na perspectiva da sua própria percepção das
coisas. Suas tentativas de organizar o trânsito, corrigir o comportamento dos
outros, sua indignação diante do que lhe parece fora do lugar, tudo isso
reflete o desejo de participar e viver num mundo diferente e, portanto, melhor.
São os loucos, como também acontece com alguns bêbados e
outros tipos de alucinados, que chegam a perceber os reflexos de algo diferente
e distinto, um território onde não existem certezas. Trata-se de um campo de
névoas, brumas, sensações transmitidas por um rápido raio de sol sobre uma
praia estranha.
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