sábado, 8 de setembro de 2012

Um caderno antigo


No meio de velhos guardados, encontrei um caderno antigo, do tempo em que servi ao Exército. São páginas escritas com a minha letra, mas eu não me lembrava mais daquelas anotações. Elas misturam a descrição de armas de guerra com esboços de poemas que devo ter escrito durante as aulas que nos apresentavam à tecnologia desenvolvida para matar.

O FM Madsen tem uma velocidade de tiro de 184 mts por segundo e sua caixa da culatra está dividida em caixa, tampa, suporte da coronha, portinhola e guarda-mato, diz uma anotação. E, ao lado, estes três decassílabos: “o mar que conduzimos nos sentidos/desde gélidos pássaros feridos/às coisas animadas que nós somos”.

Na mesma página da minuciosa descrição de um Lança-Rojão, arma tática da Cavalaria, a tradução que devo ter feito, durante a aula, de um poema de Paul Eluard: Eles ignoravam que a beleza do homem é maior do  que o homem. Eles viviam para pensar e pensavam para calar. Eles viviam para morrer e continuavam inúteis.

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