Havia árvores sem folhas e nos seus galhos
nus algumas aves procuravam por um abrigo inexistente. Era uma busca angustiada,
pontuada de cantos roucos, piados dissonantes, voos curtos e sem destino. Onde animais
tinham vivido era uma paisagem seca, áspera, feita de pedras e areia enegrecida.
E não havia chuva, nem fontes, muito menos sombras.
Aquele era o território abandonado por
tréguas inúteis, revelações cegas e perseguições. Um lugar sem tempo que
agredia com sua face real e definitiva, pesadelo de algum monstro imaginário.
As nuvens que outrora foram brancas surgiam sujas, enegrecidas de pó, desilusão
de todos os desejos. Crianças muito feias e também sujas olhavam para elas, as
nuvens.
Sobre as carcaças, restos de carniça
atraiam urubus e outros pássaros estranhos, predadores de olhos assassinos. Ao
fim do dia o sol continuava a queimar a terra e tudo o que ainda restara de
outros tempos tão cruéis como o de agora. Sôfregos soluços, respiração
entrecortada de gemidos dirigidos a um horizonte sombrio, imundo e cheio de
ameaças.
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