A manhã levantou-se nas franjas de um vento
muito frio para esta época do ano e o grasnar das gaivotas acentuou o sentido
da solidão do dia. Pouca gente nas ruas, o distante barulho de motores parecia
o ressonar dos últimos dias de verão no Norte de Portugal. O velho dirigiu o
olhar para a conhecida paisagem agora misturada em cores de azul e cinza.
O pensamento voltou-se para o passar das nuvens pesadas que lembravam mais um
outono saudoso da primavera. Palavras soltas pareciam descrever o ritmo do
tempo passando, a passar como o próprio vento que lhe emprestava sua moldura visível
no farfalhar das folhas, no movimento das flores do jardim coberto pela neblina
leve.
Vieram também sons desencontrados povoando
a manhã, entre eles o que parecia ser o soluço de uma criança tímida. E veio
também com eles a memória a perseguir o tempo, a lembrança de outros dias,
quando as crianças corriam ao encontro dos ventos do verão chuvoso. E de quando
se falava de esperas e esperanças. E também da imensidão da vida diante dos limites
do mundo.
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