quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Manhã



A manhã levantou-se nas franjas de um vento muito frio para esta época do ano e o grasnar das gaivotas acentuou o sentido da solidão do dia. Pouca gente nas ruas, o distante barulho de motores parecia o ressonar dos últimos dias de verão no Norte de Portugal. O velho dirigiu o olhar para a conhecida paisagem agora misturada em cores de azul e cinza.

O pensamento  voltou-se para o passar  das nuvens pesadas que lembravam mais um outono saudoso da primavera. Palavras soltas pareciam descrever o ritmo do tempo passando, a passar como o próprio vento que lhe emprestava sua moldura visível no farfalhar das folhas, no movimento das flores do jardim coberto pela neblina leve.

Vieram também sons desencontrados povoando a manhã, entre eles o que parecia ser o soluço de uma criança tímida. E veio também com eles a memória a perseguir o tempo, a lembrança de outros dias, quando as crianças corriam ao encontro dos ventos do verão chuvoso. E de quando se falava de esperas e esperanças. E também da imensidão da vida diante dos limites do mundo.

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