Como acontece a todos os poetas,
chega a hora de escrever o último poema.
E eu o dedico a ti, Emmanuel,
a quem foi negada a faculdade humana de
morrer.
A ti, cuja palavra nos dirige à vala comum
das despedidas
chamada por ti revelação.
Primata, inventor dos medos, sutil
transfigurado,
serpente viva na doença dos culpados.
Li teus livros. Apóstata curioso,
adventista inútil,
fui a teu encontro à noite, nos vitrais.
Procurei-te no chão das naves,
no pórtico das salas onde as inundações
deixaram
marca sem memória.
Engoli soluços ajoelhado nas pedras, nas
calçadas
em que andarilhos se perderam nas trilhas
disfarçadas.
Acreditei no mito das almas condenadas.
Morri no momento impossível
em que as aves soturnas começam a enxergar
o amanhecer
e um vento inesperado sopra nas sombras do
verão.
Desci passo a passo degraus de catedrais
observado por gárgulas medonhas.
Andei no fio dos horrores,
no escuro dos quartos
onde prostitutas cegas perscrutavam o
amanhecer.
Persegui roteiros como sou, noctâmbulo
perdido nas manhãs.
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