A silhueta transpõe
os limites do muro:
é um desenho de sombras.
Os braços revolvem os traços
e ampliam imagens
impregnadas de chuva.
As portas se abrem
e as retinas de um velho se fecham
em solilóquio mudo.
A cidade desperta pelos ventos,
murmúrio
no vazio dos espaços.
Sem origem ou nome,
acompanha uma palavra,
inania verba, seus íntimos ruídos.
Ruas desaguam como rios
e canalizam os ventos, sopram
memórias em oceanos represados
no estuário das distâncias,
à margem das arquiteturas
num gesto construídas.
Um cão mistura-se à poeira,
gane, rasteja para as sombras,
perscruta o enigma, corre e some.
Na fronteira da noite, surge o dia,
a tarde ensolarada, e um gemido
libera o sentimento que o prendia.
Os sons reproduzem vidas primitivas,
existências afogadas,
mares antigos.
Testemunha de ausências,
êste é o mar que acompanha
o vento chegar a seu destino.
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