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A tarde matizada de chuva, envolvida pelo
vento frio, compõe uma paisagem debruçada sobre o rio, bela e sóbria, enquanto
assiste a chegada da noite. O velho contempla a rua enquanto caminha pela
calçada estreita em direção ao parque onde os faisões ensaiam seus curtos voos.
Olha, lembra dos invernos não tão frios de antigamente. Mas sente-se melhor,
aqui, sentindo o vento quase gelado a lhe bater no rosto.
A madrugada de silêncio e insônia trouxera
lembranças confusas que não sabia dizer se eram mesmo de vigília ou sonho.
Todas as noites silenciosas e insones trazem consigo memórias ruins, fracassos
vividos, pensa o velho, pois a vida jamais é construída sobre vitórias, a perda
e a dor vão construindo o arcabouço da vida.
Há uma presença de cinza não só nas ruas,
mas também nas nuvens e na própria chuva que gaivotas atravessam, ouve-se o
grasnar como um grito misturado ao som da rolagem dos automóveis. Um cenário
perfeito para a tristeza, pensa o velho, que no entanto não se sente triste. E
entra no bar que fica bem na esquina da rua, antes do jardim onde despontam as
primeiras flores da primavera.
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