Silencioso e calmo, um disfarçado sorriso nos lábios e o
olhar tímido porem sincero, era meu primo e poucos anos depois seria médico.
Enquanto nós, os outros, dedicávamos o tempo na noite e dela nos embriagávamos,
ele permanecia fechado no quarto da pensão de Recife e estudava. Ria seu riso
tímido quando ouvia as histórias da nossa boemia irresponsável. E se recusava a
participar da vida que vivíamos.
A cidade era tranquila, naquele tempo. O Capibaribe
percorria seu caminho até o mar e dividia em duas a paisagem que achávamos a
mais bela do mundo. Nas suas margens, pela madrugada silenciosa, passeávamos
nossa inquietação e dizíamos poemas que traduziam os segredos da noite em que mergulhávamos.
Quando terminou o curso mudou-se para sua cidade no
interior, foi um bom médico, silencioso e sábio. Tive dele poucas notícias e
nunca consegui entender a angústia que o levou ao suicídio. Em sua forma calma
de viver, escondeu o conflito interior que acabou por mata-lo. Há um mistério
nos suicidas que os sobreviventes nunca haverão de compreender.
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