A passagem do tempo lega a quem sobrevive a vivência da
solidão. A morte dos contemporâneos deixa-nos cada vez mais sozinhos. Olhar a
vida na procura de decifrá-la nos coloca diante do maior dos enigmas. Se não
conseguíamos compreendê-lo quando tínhamos vinte anos, com o passar do tempo adensam-se
as trevas que confundem a percepção.
O passado transforma-se no morto que é preciso enterrar para
ter vida. O peso das lembranças mistura-se à incompreensão do mistério e o
homem se vê diante das paisagens incendiadas no fogo da memória. A cada dia transformam-se
em cantos cobertos de cinzas na planície de um território estranho, desconhecido.
Mergulha na infância, velho. Lá não existirão lembranças e
as vagas sombras se locomovem como nuvens que vão trazer as chuvas de inverno.
Sons de palavras misturam-se à música do vento e ao sussurrar das folhas em
canaviais. Um dia o verde imenso se transformará em revelações e virá quem sabe
o entendimento do que hoje é mistério, apenas.
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