Doka dizia que a humanidade ama a mentira e odeia o Bem, mas
acredita que está sempre na busca da verdade e a fugir do Mal. Difundiu a falsa
crença de que o Bem sempre vence aliado à virtude, à solidariedade entre os
homens e à presença de Deus. A História, no entanto, comprova a prevalência do Mal, da guerra, do genocídio,
de toda sorte de crimes, da corrupção e da violência. E Deus não existe.
Ele também não acreditava no amor, pois entendia ser um
sentimento em que seres egoístas se refugiam, solitários e tristes e confusos, acreditando
na força sublimada das emoções para evitar a loucura e adiar a tragédia da
morte. Mas a morte, ao fim, conquista a vitória para compensar a ilusão da
vida.
Doka um dia sumiu e nem mesmo sua família jamais soube para
onde fora ou se recolhera. Nós, os seus amigos, continuamos a conviver com o
mistério do seu desaparecimento. De vez em quando alguém aparecia na mesa do
bar com a falsa notícia de que ele tinha sido visto em algum lugar. Mas Doka
levou consigo o enigma que passou a representar. Pelo tempo passado até hoje,
talvez já tenha morrido em algum lugar, talvez não. Um sábio, ou apenas um
ilusionista ou farsante, penso que na verdade ele representou a má consciência
da minha própria juventude.
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